domingo, 17 de junho de 2012

Semana 03 - Bitter Sweet Symphony



Quem?

·        The Verve

Quando?

·        1997

Single?

·        Sim





Álbum?

·        Urban Hymns





Compositor/a/res?

·        Richard Ashcroft; Mick Jagger & Keith Richards

Paradas de Sucesso?


·        Bitter Sweet Symphony:
    (Reino Unido/Inglaterra - #02); (Estados Unidos - #12); (Holanda - #14); (Austrália - #11); (Áustria - #15); (Bélgica - #18); (Canadá - #05); (Finlândia - #06); (França - #16); (Irlanda - #03); (Itália - #02); (Nova Zelândia - #15); (Noruega - #09); (Suécia - #10); (Suíça - #15).
     ·      Urban Hymns:
    (Reino Unido/Inglaterra - #01); (Estados Unidos - #23); (Austrália - #09); (Canadá - #01); (França - #01); (Holanda - #01); (Nova Zelândia - #01); (Suíça - #01).

Gênero?

·        Britpop; Symphonic Rock

Duração?

·        05mín58seg

Videoclipe?

·        Sim




Comentário/Crítica


·            Épico: não vejo palavra melhor para definir a canção mais famosa e comercial da banda de britpop The Verve: Bitter Sweet Symphony. Com este diamante da música britânica, inicio a terceira indicação deste blog: ao passo que a condução orquestral da canção é leve, a interpretação e a performance de Richard Ashcroft e da banda como um todo são marcantes e envolventes, conduzindo o ouvinte ao êxtase do que há de melhor no encontro entre o poder da música rock com a suavidade dos instrumentos clássicos de corda, como o violino e o violoncelo.


Justamente por ser tão sincrônica e tão bem conduzida é que esta canção está recheada de más interpretações e de equívocos em relação aos seus significados e à proposta original de Ashcroft: infelizmente, ao invés de transportar a banda para uma posição de excelência na música pop, Bitter Sweet Symphony se provou um problema muito maior do que o esperado; acusado de plágio, o músico teve que ser obrigado judicialmente a dividir a autoria da canção com uma das duplas mais famosas da História da Música: Mick Jagger e Keith Richards, da banda The Rolling Stones.

O que aconteceu, então? Ashcroft, assim como milhões de britânicos, era um fã daquela banda. E, no caso dele, o tempo verbal era deve ser bastante ressaltado, já que ele não deve mais se sentir tão feliz ao ouvir a voz de Jagger ou a guitarra de Richards. Sua intenção foi fazer um sample (espécie de releitura/paráfrase musical, como em uma citação num texto acadêmico) dos arranjos da canção The Last Time, de 1965, produzida por Andrew Loog Oldham (que trabalhou para os Rolling Stones naquela década). A intenção foi boa; já a recepção nem tanto. E a maior parte dos lucros obtidos com a cação foi repassada para ambos os integrantes da banda londrina.

Originalmente, os componentes do The Verve tentaram negociar com o manager dos Stones em 1997,  Allen Klein, e conseguiram autorização para executar a referida releitura. No entanto, creio eu, Klein não estava acreditando que o The Verve pudesse alcançar o sucesso comercial que alcançou; tendo isto acontecido, os Stones (sob a orientação de seu manager) entraram na justiça contra Ashcroft com a justificativa de que Bitter Sweet Symphony tinha extrapolado o limite de referência permitido e definido naquele acordo. Resultado: todos os royalties da melodia (os lucros com o direito autoral) foram para Jagger e Richards.

O que foi um balde de água fria para a banda: o maior sucesso da banda não pôde ser desfrutado por Ashcroft (voz, guitarra rítmica, baixo, teclados e percussão), Nick McCabe (guitarra, piano e teclados), Simon Jones (baixo e teclados), Peter Salisbury (bateria e percussão) e Simon Tong (guitarra e teclados), membros do The Verve, por conta da ambição de um empresário: duvido que Jagger e Richards pensassem/pudessem abrir o processo judicial sem a intervenção de Klein; duvido também que o dinheiro que eles arrecadaram viesse a fazer falta em sua vasta fortuna. No entanto, no mercado fonográfico, cada um que evite este tipo de problema com direitos autorais, especialmente se a querela envolver nomes como o da banda Rolling Stones: quem tiver mais poder e maior renome certamente sairá em vantagem, como foi o caso em Bitter Sweet Symphony.

Mas a pergunta que não quer calar: foi um plágio? Na minha opinião não. Diz-se que os arranjos de The Last Time foram copiados, mas é preciso um ouvido muito atento para que a semelhança seja perceptível, até porque o compasso e a condução harmônica de ambas não são os mesmos. O que deveria sugerir uma homenagem foi visto com ganância, imbróglio e rancor. Ashcroft declarou, após perder a causa, que a canção foi "a melhor coisa que os Rolling Stones conseguiram compor em 20 anos". Ou seja, sua ironia é nítida e atesta a decepção para com a atitude dos ídolos que ele tanto venerou.

Mas e quanto à canção? Bitter Sweet Symphony é uma peça representativa de como a vida pode ser, como se diz no título, amarga e doce: "você é um escravo do dinheiro, então você morre", diz seu segundo verso. Com uma esperança juvenil  nítida, Ashcroft (que ao menos da letra pode se orgulhar de ter escrito) espera que as pessoas possam mudar as coisas sem a necessidade de mudar o bom caráter que carregam; mesmo que haja a possibilidade de elas mudarem de concepção repentinamente, de carregarem consigo um milhão de possibilidades identitárias, estas não funcionam se as pessoas não tiverem caráter. "Mesmo que eu seja um milhão de pessoas diferentes, de um dia para o outro, eu não posso mudar meu caráter, não, não, não, não, não...". Vigoroso!

Além disso, para a letra, é necessário que se viva intensamente, pois, mesmo que a vida pareça apenas "sexo e violência, melodia e silêncio", é preciso 'chegar à estrada que te leva aos lugares onde todas as coisas se encontram', ou seja, faz-se urgente alcançar um rumo, um caminho para que as coisas mudem e não sejam apenas a mesmice que parecem ser. Mudar é preciso; aceitar o outro é imprescindível; mas só é possível fazer tudo isso se o caráter de humanidade for mantido, o que faz da vida uma jornada que, assim como uma sinfonia, pode ser tão amarga quanto doce.

É como está dito em 1001 Discos para Ouvir antes de Morrer: o álbum Urban Hymns "abre com o elegíaco 'Bittersweet Symphony', uma música que leva apenas 40 segundos para garantir ao Verve um lugar na história do rock inglês. Quando entra a bateria, a atmosfera transcendental se manifesta sob a forma da letra visionária de Ashcroft". Assim sendo, por esta e outras canções, o referido álbum "possui um espírito pioneiro que desafiou os limites daquilo que as bandas inglesas de guitarras podiam conseguir nos anos 90". Não deixe, portanto, de levar em consideração esta canção cada vez que a as coisas parecerem se repetir em uma rotina idílica, sem muita movimentação, morosa. Quando isto acontecer, cante bem alto: "eu deixo a melodia brilhar, deixo-a limpar minha mente, eu me sinto livre agora"!

Versões Cover?


·  A banda norte-americana Limp Bizkit gravou um medley (junção de duas ou mais canções em uma só) da canção Home Sweet Home, da banda Mötley Crüe, com Bitter Sweet Symphony no ano de 2005 como material inédito para compor a coletânea Greatest Hitz. Esta versão, talvez para evitar problemas de direitos autorais, não utiliza a orquestração dos arranjos da versão original e não oferece uma audição muito admirável ao ouvinte: nenhum atrativo, nenhuma inovação.

Outros covers:
Cantora: Madonna
(ao vivo)
~
Cantor: Kayne West
(ao vivo)
~
Banda: Oasis
(ao vivo).





domingo, 10 de junho de 2012

Semana 02 - I've Got The Music In Me


Quem?

·        Kiki Dee

Quando?

·        1974

Single?

·        Sim





Álbum?

·        I've Got The Music In Me







Compositor/a/res?

·        Tobias Stephen Boshell

Paradas de Sucesso?


·        
I've Got The Music In Me [Single]:
      (Reino Unido/Inglaterra - #19); (Estados Unidos - #12); (Holanda - #09).
     ·      I've Got The Music In Me [Álbum]:
         (Nunca entrou nas paradas de sucesso).

Gênero?

·        Funky; Soul/Motown; Pop

Duração?

·        04mín56seg



Videoclipe?

·        Não


I've Got The Music In Me
("promo video" - como se chamava na época - para a TV)


Comentário/Crítica



·          Se há uma definição que se possa considerar apropriada para o sucesso comercial da cantora britânica Kiki Dee é a injustiça. Talentosa, linda, carismática e com um força vocálica incomum, esta cantora não é lembrada como deveria: apesar de ter feito algum sucesso em meados da década de 1970 e em alguns momentos da seguinte, seus álbuns não venderam como poderiam, suas performances não tiveram o reconhecimento que deveriam ter e sua imagem foi ofuscada, sendo geralmente associada às várias contribuições (sejam em duetos ou em back vocais) que ela deu à obra do cantor/compositor britânico Elton John.

No entanto, ela foi a primeira artista britânica a assinar um contrato com a famosa e respeitada gravadora de música funky/soul Motown Records. Como se diz na revista "The Motown Story", de 1970, quando seu contrato anterior com a Fontana/Philips Records se expirou, "Kiki se juntou à família Motown e passou o mês de setembro de 1969, inteiro, gravando em Detroit sob a supervisão de Frank Wilson, Jack Gogan e Hank Cosby (Kiki joined the Motown family and spent the whole of September, 1969, recording in Detroit under the supervision of Frank Wilson, Jack Gogan and Hank Cosby)". Um ano e um álbum depois, a Motown perdeu seu interesse pela jovem promissora e ela se viu sem grandes perspectivas até que Elton John, o músico mais famoso da época, resolvesse fundar uma gravadora em 1973: a Rocket Records.

John Reid, tanto empresário de Elton John quanto acionista da Rocket à época, conheceu Kiki Dee nas sessões de gravação na Motown e, sabendo de sua recente quebra de contrato, resolveu convidá-la a se tornar a primeira estrela da gravadora recém-inaugurada; a cantora não pestanejou e aceitou o convite e, num período de seis anos, lançou quatro álbuns que, frustrando as expectativas, não foram sucesso de vendas.

Seus singles, contudo, vendiam regularmente e a segunda indicação deste blog foi um dos mais bem sucedidos: "I've Got The Music In Me", composta pelo baixista da então Kiki Dee Band, foi o maior sucesso comercial solo da cantora e até hoje é uma das poucas canções de seu repertório que ainda são recorrentemente lembradas. Não à toa, neste ano de 2012, a cantora Jennifer Lopez gravou um comercial para a loja de departamentos Kohl's, cantando-a.

Necessário se fez realizar esta pequena incursão pela trajetória de Kiki Dee por um simples motivo: a canção em destaque foi uma espécie de mensagem implícita e metafórica direcionada à Motown, já que cantar as palavras "Eu Tenho a Música em Mim" e gravá-las nos mesmos gêneros musicais que fundamentaram a criação daquela gravadora me soa como um gesto provocativo; ou seja, já que desistiram de investir em seu potencial, acredito que ela quis mostrar/provar que tinha condições artísticas e que era uma cantora de nível tão singular quanto os principais nomes femininos que fizeram a Motown (a exemplo de Gladys Knight, Diana Ross, Tammi Terrell, entre outras).

Na minha opinião, ela conseguiu o que queria. A potência que demonstra ao cantar versos como "feel funky, feel good, gonna tell you I'm in the neighbourhood (sinto-me funky, sinto-me bem, vou te contar que eu estou na vizinhança)" é tão louvável quanto indicativa: por um lado, tais versos convidam e conduzem o ouvinte para dançar o funky como se fazia na década de 1970; por outro, querem dizer que Kiki Dee estava no auge de sua potencialidade musical e que 'ela estava lá', contrariando as regras, pois, mesmo sem ser negra, conseguia cantar muito bem os gêneros musicais da Motown.

"I've Got The Music In Me", além das suas relações históricas e contextuais, é uma canção que faz um convite ao ouvinte: 'cante o mais alto que puder'. "Eu pego as palavras em minha cabeça e então eu as canto", diz ela, justamente porque "não permito que a vida me deixe para baixo, me apodero de meu blues e as toco [as palavras]". Contagiante!

Kiki Dee, portanto, não apenas entoa as palavras com propriedade como convida as pessoas para a diversão: 'apesar das adversidades', como as que ela enfrentou após a saída da Motown, 'devemos olhar para a vida com confiança, com alegria'. Nada mais ela pede, através das palavras de Boshell, que o seguinte: 'se você estiver abalado, não há remédio melhor que a música'.

E é assim que ela se mantém na ativa até hoje, cantando ao lado do guitarrista Carmelo Luggeri: mesmo que não seja lembrada como deveria, que não tenha o prestígio que poderia ter, Kiki Dee com certeza é uma das poucas pessoas que ainda podem dizer: "Eu Tenho a Música em Mim".


Versões Cover?

·      A cantora de rhythm and blues e funky Thelma Houston gravou uma versão muito semelhante à original de Kiki Dee, apenas um ano depois, em 1975, sem trazer quaisquer acréscimos à canção. Não desmereço a versão de Houston, mas esta demonstrou pouca inovação em relação à original; talvez tenha havido uma adição maior de vozes de fundo (os famosos "background vocals") que tenham enfatizado ainda mais o som funky/soul/Motown da canção. No entanto, a entonação vocal de ambas é praticamente a mesma, o que sugere que a  capacidade de Kiki Dee, na época, e apesar de ser branca e britânica, nada devia às poderosas performances das cantoras negras norte-americanas que tanto caracterizaram esses gêneros musicais. Para além das coincidências, a versão de Houston figurou em seu terceiro álbum, que, assim como o de Kiki Dee, se intitulou "I've Got The Music In Me", tendo a faixa título, assim como na primeira ocasião, se tornado seu principal carro-chefe. A versão da norte-americana, no entanto, e diferente da original, não foi bem sucedida comercialmente e não alcançou as paradas de sucesso.


Outros covers
Cantora: Marcia Hines
Álbum: Shining
1976
~
Banda: Heart
Álbum: Magazine
1977
~
Cantora: Barbara Bajer
Álbum: Moja Muzyka
1977
~
Cantora: Aretha Franklin
Álbum: Sweet Passion
1977
~
Cantor: Ronnie Milsap
Álbum: Only One Love In My Life
1978
~
Cantora: Celine Dion
(ao vivo).



domingo, 3 de junho de 2012

Semana 01 - Running Up That Hill (A Deal With God)


Quem?

·        Kate Bush

Quando?

·        1985

Single?

·        Sim




Álbum?

·        Hounds Of Love




Compositor/a/es?

·        Kate Bush

Paradas de Sucesso?

·        Running Up That Hill
      (Reino Unido/Inglaterra - #03); (Estados Unidos - #30); (Nova Zelândia #26); (Irlanda - #04); (Alemanha - #03); (França - #24); (Holanda - #06); (Bélgica - #06); (Austrália - #06).
·        Hounds Of Love
      (Reino Unido/Inglaterra - #01); (Estados Unidos - #33); (Nova Zelândia #17); (Alemanha - #02); (França - #09); (Holanda - #01); (Austrália - #06); (Suíça - #03); (Suécia - #09); (Noruega - #12); (Áustria - #14); (Japão - #36).

Gênero?

·        New Wave; Art Rock

Duração?

·        05mín02seg



Videoclipe?

Comentário/Crítica


·          Esta é a canção de estréia das indicações deste blog. Neste primeira semana de Junho, mês em que o frio emerge de modo deveras promíscuo, a canção escolhida se mostra bastante apropriada: não sei exatamente porque, mas talvez o uso predominante do sintetizador (o Linn LM-1) e a batida em marcha da melodia me façam imaginar o vento batendo e até a neve caindo. Aliada a isto está a performance vocal de Kate Bush: leve na condução e forte no andamento, chegando a um clímax estonteante no refrão. Quando ela canta "there is thunder in our hearts (há um trovão em nossos corações)" minha pele arrepia, minhas jugulares pulsam: sem mais delongas, sinto uma vontade ímpar me levando a acompanhá-la, como se eu tivesse mesmo feito com ela um dueto; não pestanejo e canto alto "be running up that road, be running up that hill with no problems (estaria subindo aquela estrada, estaria subindo aquela colina sem problemas)"! Seria injusto de minha parte, ainda, esquecer o leve tom dançante (e bem comum em meados dos anos 1980) que me faz querer ouví-la demasiadas vezes...


Não à toa, Running Up That Hill (A Deal With God) é uma das mais belas canções já compostas justamente por ser tão forte melodicamente e possuir uma letra tão provocativa quanto  direta: a vida e o amor por um ângulo muito mais real e maduro do que costumam ser vistos em grande parte das canções pop/rock já lançadas. Alteridade e sutileza: "ponha-se no lugar do outro", pede a canção, para que o ódio e o desprezo não sejam cultivados; "vamos trocar as experiências", ela exclama, para que aquele que acredita ter sempre a razão possa ponderar suas atitudes e rever suas concepções. Sutil, o pedido que Bush faz não é nada mais que 'seja compreensivo, as pessoas são mais valiosas que o rancor que você sente por elas'. Diz ela: "existe tanto ódio por aqueles que amamos? me diga, nós dois importamos, não importamos?". Poético!


A canção já é intrigante desde o seu título: primeira faixa composta para o álbum Hounds Of Love, Running Up That Hill, na verdade, era para se chamar simplesmente A Deal With God. No projeto original, Kate Bush pretendia lançá-la com este título e como primeiro single promocional do álbum, mas houve um impasse com a gravadora EMI: seus agentes queriam que Cloudbusting fosse lançada primeiro e não acharam adequado aquele primeiro título; mesmo assim, Bush se empenhou e os convenceu a lançar A Deal With God ("Um Pacto Com Deus") como single principal; em contrapartida, ela deveria trocar o nome da canção para Running Up That Hill ("Subindo Aquela Colina"), pois eles estavam temerosos que o nome original pudesse ter uma recepção negativa por parte dos fãs e de um possível novo público para a cantora.


Ela atendeu o pedido, ao menos em parte: no single, a canção aparece com o nome solicitado pelos agentes da EMI; no álbum, ela está intitulada Running Up That Hill (A Deal With God)!


O que a cantora queria com tudo isso? Simplesmente demonstrar que as pessoas têm que se colocar no lugar do outro para que a convivência em sociedade e os relacionamentos dela extraídos sejam mais bem administrados. No processo de composição da letra, a cantora chegou a cogitar a frase A Deal With The Devil ("Um Pacto com o Demônio)", mas ela achou que não seria tão impactante e provocativo quando "um pacto com Deus". Assim surgiu a canção que apresenta uma Kate Bush que se afasta um pouco daquela que emergiu e se tornou um fenômeno com o single "Wuthering Heights" em 1978 até o disco "The Dreaming", de 1982, especialmente no tocante à sua performance vocal que, de mais aguda, se tornou mais intermediária e profunda; ela apagou sua imagem de adolescente com hormônios aflorados e provou a todos ser uma artista madura e confiante de si sem perder o charme e a alegria de antes.


Tudo isso é perceptível, inclusive, no videoclipe da canção: uma performance bela de dança contemporânea é feita pela própria cantora e pelo dançarino Michael Hervieu com coreografia montada por Diane Grey. Ambos estão vestidos com hakamas japonesas de cor acinzentada e apresentam um número bastante intrigante que sugere os movimentos de um arqueiro ao empunhar seu arco e flecha, preparando-se para mirar o alvo, tal como demonstra a imagem da capa do single. Tudo é tão poético que toda a produção da canção é bem estruturada em torno de sua questão principal: o desenrolar dos relacionamentos, amorosos ou não (não à toa, por ser cupido o arqueiro-mor dos deuses, não é difícil imaginar porque ela escolheu a imagem do arco e flecha para representar a dança no videoclipe).


Empenhada em seu trabalho, como se diz no livro 1001 Discos para Ouvir antes de Morrer, Kate Bush, ressentida com a crítica a The Dreaming, "refugiou-se no estúdio. Diz a lenda que ela teria engordado muito, mas reapareceu em 1985 mais bonita do que nunca, apresentando um trabalho tão épico e louco quanto o seu antecessor, mas com músicas melhores e vendas ainda maiores".  Uma coisa é certa:  ela apenas confirmou sua capacidade ímpar como cantora-compositora e de ícone do Art Rock, gênero que faz fusão entre rock e arte contemporânea.


Versões Cover?

·      A banda de britrock Placebo fez uma interessante versão cover da canção para um disco extra do álbum Sleeping With Ghosts, de 2003. Intitulado Covers, este extra foi preparado especialmente após o inesperado sucesso alcançado por esta versão de Running Up That Hill, entre seus fãs, que, junto a outros covers que a banda havia feito anteriormente, deu origem ao disco adicional. Nesta versão, o vocal de Brian Molko atribui um ar aparentemente gótico à canção e me faz lembrar um pouco bandas como Bauhaus ou Siouxsie And The Banshees não na harmonia em si, ou mesmo no fundo musical, mas na condução vocálica que sugere certa lentidão depressiva que faz desta versão uma aproximação interessante entre os grupos já citados e a cantora irlandesa Sinead O'Connor, por exemplo.


Outros covers:
Banda: Faith And The Muse
Álbum: Vera Causa 
2001
~
Banda: Within Temptation
Álbum: Running Up That Hill Single
2003
~
Banda: Icon And The Black Roses
Álbum: Icon And The Black Roses
2004
~
Dupla: Kiki Dee & Carmelo Luggeri
Álbum: The Walk Of Faith
2005
~
Pianista: Isadar
Álbum: Scratching The Surface
2006
~
Banda: Chromatics
Álbum: Night Drive
2007
~
Cantoras: Tori Amos e Kerli
(ao vivo)
~
Cantor: Patrick Wolf
(ao vivo)
~
Bandas: Spleen United, The William Blakes e Ham Sandwich
(ao vivo).





sexta-feira, 1 de junho de 2012

Apresentação do Blog



A palavra Libido, etimologicamente falando, deriva do Latim e significa "desejo" ou "anseio". Estes são os impulsos primeiros deste blog: expor meus desejos e meus anseios musicais, meus pontos de vista sobre canções que indico como audição interessante, detalhada, fluída, envolvente e vivaz, de modo que se possa apresentar ao leitor um novo olhar sobre artistas consagrados ou chamar sua atenção para novos músicos (para ambos os casos, especialmente os de língua inglesa).

A cada semana será feita uma indicação com todos os detalhes possíveis sobre a canção e minha impressão livre sobre sua audição.

Como diria Nietzsche, a canção, por ser uma experiência  que invoca os sentimentos mais puros  e instintivos da alma humana, compreende tudo o que vivemos e é "o espelho musical do mundo". Ela é vontade, paixão, desejo, sensualidade, raiva, rancor, ardor, libido. Ela é a paisagem contemplativa do prazer e a racionalidade jocosa do saber: irrompe por todas as partes do nosso corpo, do ouvido à boca, quando a apreciamos e quando a cantamos; dos pés à cabeça, quando a dançamos e quando a estudamos/compreendemos. É vigor, movimento e devir; é, a todo momento, libido!






























p.s.: as informações que serão apresentadas aqui, ao longo de cada texto, são oriundas de várias fontes; portanto, quando necessário, farei menção a um livro ou outro ou mesmo a artigos especializados. Também cabe lembrar e agradecer à Wikipedia, the free Encyclopedia, pois não farei nenhuma citação direta a esta fonte; no entanto, deixo o registro de que muitas informações serão verificadas por lá, com a ressalva de que se apresentarão aqui apenas aquelas que puderem ter sua verossimilhança confirmada.